Edição de Genoma: um dilema moral
A edição de genoma tem dado o que falar na comunidade científica. A descoberta de um conjunto de moléculas capaz de alterar nossos genes da forma que desejarmos promete ser o caminho das pedras para a cura de diversas doenças como o câncer e a aids. Mas todo cuidado é pouco, pois aquilo que tem potencial de ser a grande chave para cura de várias doenças pode trazer sérios problemas morais.
A edição de genoma como conhecemos é possível basicamente graças a duas moléculas: CRISPR e Cas9. Estas moléculas, interessantemente, foram descobertas como parte do sistema imune de Bactérias e Arqueas. Estas moléculas cortam o DNA de invasores, como os vírus, em regiões específicas, inutilizando sua função.
Assim, os pesquisadores descobriram que poderiam guiar estas moléculas para cortar o DNA de outros seres vivos como os animais. A grande sacada aqui, é que o DNA dos animais tem um mecanismo de reparo próprio, em que quando quebrado tem a capacidade de se religar. Porem a ligação não é perfeita, ocorrendo mutações. Assim, o primeiro modo de edição de genoma é causar mutações nos genes para que eles parem de funcionar corretamente. A segunda forma é inserir, juntamente com as moléculas CRISPR/Cas9, uma porção de DNA que você deseja "colar" no genoma. Assim, quando o DNA tenta se recuperar sozinho ele acaba por, sem querer, inserir essa porção nova de DNA.
Essa técnica tem sido amplamente utilizada atualmente e já se mostrou uma técnica poderosa para poder lidar com várias doenças. Em Agosto de 2016, cientistas chineses foram os primeiros a utilizar a técnica em humanos, na tentativa de tratar pacientes com câncer de pulmão.
Porem nós precisamos ter muito cuidado com o poder de técnicas como esta. Com o avanço das pesquisas envolvendo a edição de genoma não estará longe o tempo em que poderemos alterar qualquer porção que desejarmos do nosso organismo. Cor do olho, cor da pele, tamanho, e até propensão a doenças futuras poderão facilmente ser manipuladas no futuro e a pergunta que deve ser urgentemente discutida é: será que porque conseguimos fazer uma coisa, devemos fazê-la?
A edição de genoma tem potencial para ser uma grande salvadora de vidas, mas a partir do momento em que ela pode decidir o padrão de como as pessoas devem nascer devemos tomar cuidado. O que aconteceria com as pessoas que não teriam condições de pagar uma técnica dessas? O que aconteceria com a diversidade cultural e racial se as formas das pessoas fossem moldadas em laboratório?
Um filme muito bom que trata deste assunto é o filme Gataca de 1997. Nesta época a edição de genoma era apenas uma distante ficção científica que hoje já se tornou realidade. Então devemos sempre ter em mente o que o Tio Ben disse para nosso querido Homem Aranha: Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.