Plantas são capazes de aprender e lembrar assim como os animais.
Até agora acreditávamos que a principal coisa que diferenciava os animais dos outros seres vivos era a nossa incrível capacidade de memorizar e aprender com eventos passados. Porém, a pesquisadora Australiana Monica Galiano está querendo mudar este conceito e mostrar que não só os animais mas também as plantas que são capazes de tal façanha. Ficou curioso? Venha conferir.
Muitas pessoas já ouviram falar do cão de Pavlov. Neste experimento, o cientista russo Ivan Pavlov estudou o comportamento dos cachorros perante a comida. Para isso, toda vez que ele alimentava os cachorros um sino era tocado. Depois de certo tempo, percebeu que apenas o toque do sino era suficiente para fazer com que os cães salivassem. Isso porque os cães associaram o toque do sino com a chegada de comida. Este estudo, realizado em 1920, impactou a comunidade científica e abriu portas para diversas novas áreas de estudo, inclusive em nós humanos, como o condicionamento clássico, reflexologia, psicologia comportamental e até fobias.
Agora, um estudo publicado em dezembro de 2016 poderá novamente nos fazer repensar o que sabemos sobre aprendizagem e pensamento cognitivo. A pesquisadora Australiana Monica Gagliano demostrou que as plantas também são capazes de aprender e memorizar por longos períodos eventos de seu “cotidiano” assim como os cães de Pavlov e até mesmo humanos.
Esta ideia teve início em 2014, quando a própria Gagliano mostrou que a planta popularmente conhecida como dormideira (Mimosa pudica) é capaz de lembrar, através de um mecanismo de habituação. Para quem não conhece, a dormideira é uma planta famosa por fechar suas folhas quando alguém encosta nela (veja vídeo abaixo), como mecanismo de defesa contra predadores. Gagliano percebeu que após repetidos toque na planta ela para de se fechar, apresentando uma clara memória ao toque, e isto pode perdurar por mais de um mês, mesmo que não haja mais nenhum toque. Esta habituação é famosa no mundo animal, onde ela evita desperdícios desnecessários de energia. Por exemplo, larvas do peixe paulistinha, que muitas pessoas possuem em seus aquários, assim como a dormideira, apresentam um mecanismo de fuga de predadores, no qual ao passar uma sombra por cima dele ele foge para a direção oposta. Assim como na dormideira, após condicionamento, o peixe para de tentar escapar da sombra, por “perceber” que isso é um um evento constante e não oferece perigo.
Agora em 2016, Gagliano mostrou que além de um mecanismo de memória por habituação as plantas também são capazes de aprender por associação. Para descobrir isso, Gagliano fez um experimento no qual ervilheiras (Pisum sativum) eram expostas à luz e ventilação provenientes de um mesmo sentido e provenientes de sentidos opostos. A luz é extremamente importante para a produção de açúcar nas plantas através da fotossíntese. Neste caso, a ventilação faria o papel dos sinos no experimento de Pavlov e a luz o papel da comida. Incrivelmente, depois do condicionamento, as plantas passaram a associar a direção do vento com a presença de luz, e as ervilheiras nas quais recebiam luz e ventilação do mesmo sentido passaram a crescer em direção ao vento mesmo sem a presença de luz, enquanto que o outro grupo passou a crescer em direção oposta ao vento, também mesmo sem a presença da luz. Outro fato interessante é que um segundo experimento mostrou que esta aprendizagem só acontece se o condicionamento é feito durante o período do dia. Plantas que foram condicionadas em horários diferentes, como à noite, ou ao anoitecer não apresentaram tal comportamento. Isso mostra que a planta faz tal associação apenas se isso for conferir alguma vantagem para ela na busca de alimento, é deixada de lado se isso não conferir um benefício para ela. Uma vez que, neste caso, normalmente não há presença de luz durante a noite.
Estas descobertas revelam uma área totalmente desconhecida da ciência e nos faz repensar sobre o que achamos certo sobre o mundo a nossa volta e inclusive sobre nós mesmos. Já passou da hora de repensarmos nossa maneira de lidar com a natureza e abrir os olhos para o que culturas milenares como dos povos indígenas sabem a muito tempo. A natureza é única e merece tanto respeito quanto nós. As plantas, assim como todos os seres vivos são capazes de grandes façanhas e cada vez mais nos impressionamos com elas.
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Gagliano M, Renton M, Depczynski M, Mancuso S (2014) Experience teaches plants to learn faster and forget slower in environments where it matters. Oecologia. 175(1):63-72.
Gagliano M, Vyazovskiy VV, Borbély AA, Grimonprez M, Depczynski M (2016) Learning by Association in Plants. Sci Rep. 6:38427