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O maior erro da história da ciência

Traduzido pela BioHazard.

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A ciência é uma das invenções mais memoráveis da humanidade. Ela tem sido fonte de inspiração e compreensão, levantou o véu da ignorância e superstição, foi uma das catalizadoras da mudança social e crescimento econômico e salvou inúmeras vidas.


Ainda assim, a história nos mostra que a ciência pode não ser sempre uma benção. Algumas descobertas trouxeram muito mais prejuízos do que benefícios. Um destes erros você nunca verá nestas “famosas” listas da internet de “maiores erros da ciência de todos os tempos”.


O pior erro na história da ciência foi, sem dúvida alguma, classificar a espécie humana em diferentes raças.

The human faces of Asia. First published in the first edition (1876–1899) of Nordisk familjebok. Wikimedia Commons, CC BY-SA

The human faces of Asia. First published in the first edition (1876–1899) of Nordisk familjebok. Wikimedia Commons, CC BY-SA.


Existem alguns grandes competidores para essa “honorável” classificação. Grandes erros como a invenção de armas nucleares, combustíveis fósseis, CFCs (clorofluorcarbonos), gasolina com chumbo e o DDT. Além de teorias duvidosas como o éter luminífero, terra em expansão, vitalismo, teoria da tabula rasa, frenologia e o Homem de Pilton, citando apenas algumas.

Mas a teoria das raças se destaca dentre todas essas por ter proporcionado uma miséria incalculável, e sido usada para justificar atos bárbaros de colonialismo, escravidão e até genocídio. Até mesmo nos dias de hoje tem sido usada para explicar diferenças sociais e continuar a inspirar a ascensão da extrema-direita ao redor do mundo.


Se você tem alguma dúvida da influência que isto ainda tem sobre algumas pessoas, pegue como exemplo a controvérsia acerca do livro de Nicholas Wade’s de 2014 “Troublesome Inheritance”.


As raças humanas foram inventadas por antropologistas como Johann Friedrich Blumenbach, no século XVIII, numa tentativa de categorizar os novos grupos de pessoas encontradas e exploradas durante a expansão do colonialismo Europeu.


Desde o começo, a natureza arbitrária e subjetiva das categorias das raças foi amplamente aceita. Mas na maioria das vezes as raças eram classificadas de acordo com as diferenças linguísticas ou culturais entre os grupos ao invés de aspectos biológicos.


Sua existência foi tomada como certa até o século XX, quando os antropologistas estavam ocupados escrevendo sobre raças como uma explicação biológica para diferenças na psicologia, incluindo inteligência e os resultados educacionais e socioeconômicos entre os grupos de pessoas.


No entanto, sempre houve um grande grau de desconforto sobre a categorização das raças e uma crença generalizada de que essa categorização era uma prática extremamente difícil de ser aplicada.


Um famoso crítico da teoria das raças foi o antropólogo Americano Ashley Montagu, que escreveu em 1941: “The omelete called ‘race’ has no existence outside the statistical fryingpan in which it has been reduced by the heat of the anthropological imagination” (A omelete chamada “raça” não existe fora da frigideira estatística em que foi reduzida devido ao calor da imaginação antropológica).


Se a diferença entre raças ainda ressoa pública e politicamente, o que os cientistas pensam sobre isso? E os antropólogos, em particular, ainda acreditam que essa caracterização ainda é válida?


Uma pesquisa feita com mais de 3000 antropólogos realizada pela Jennifer Wagner e sua equipe, do Sistema de Saúde Geisinger foi publicada recentemente no “American Journal of Physical and Antropology” (Jornal Americano de Física e Antropologia) e oferece algumas informações valiosas sobre suas opiniões e crenças.


As pessoas entrevistadas eram membros da Associação Antropológica Americana, o maior corpo profissional de antropólogos do mundo.


Eles foram convidados a responder 53 declarações sobre “raça”, abrangendo tópicos como se as raças são reais, se são biologicamente determinadas, se devem desempenhar um papel na medicina, o papel da raça e ancestralidade em testes genéticos comerciais e se o termo raça deveria ainda continuar a ser utilizado.


A resposta mais reveladora foi para a afirmação “A população humana pode ser subdividida em raças biológicas”, com 86% dos entrevistados assinalando “discordo” ou “discordo fortemente”.

A frase “Categorias raciais são determinadas biologicamente” recebeu 88% de “discordo” ou “discordo fortemente” e a frase “A maioria dos antropologistas acreditam que os humanos podem ser subdivididos em raças biológicas recebeu 85% de “discordo” ou “discordo fortemente”.


A partir disso, nós podemos ver claramente que a um claro consenso entre os antropologistas de que raças não são reais, que elas não refletem a realidade biológica e que a maioria dos antropologistas não acredita haja espaço para categorização de raças na ciência.


Mas, enterrados dentro dos resultados das pesquisas, estavam alguns dados preocupantes como os de que antropólogos de grupos privilegiados – no contexto dos EUA, homens e mulheres brancas – eram mais propensas a aceitar a categorização das raças como válida do que os grupos não-privilegiados.


Estes cientistas privilegiados representam 75% dos antropólogos pesquisadores. Seu poder e influência atingem todo o campo da pesquisa. Eles são as principais pessoas que determinam qual pesquisa é feita, quem receberá os financiamentos, estão treinando a próxima geração de antropólogos e são a face pública do campo, bem como os especialistas que cuja opinião em questões como raça é procurada.


A mensagem a ser absorvida é clara. Os antropólogos, como todo mundo, estão longe de serem imunes a tendências inconscientes, especialmente os efeitos de status social e da cultura na formação de nossas crenças em questões como a raça.


Ironicamente, talvez, os antropólogos precisamos, como disciplina, trabalhar muito mais duro para desafiar suas opiniões profundamente mantidas e culturalmente incorporadas, bem como para dar uma voz maior aos cientistas de grupos historicamente não-privilegiados.


Ainda assim, a pesquisa trouxe uma declaração muito poderosa. Uma forte rejeição da classificação racial por aqueles cientistas cuja própria disciplina inventou o sistema classificatório em si.


Ela também marca uma aceitação quase universal pelos antropólogos, após décadas de evidências genéticas, de que a variação humana não pode ser associada a categorias chamadas raças.


Saindo da minha torre de Marfin, não consigo ver a classe política ou a comunidade mais ampla adotando uma visão tão forte contra a classificação racial tão breve.


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